IDEAK
Como entender pensamento, consciência e mente na visão espírita?
Transcrições

Como entender pensamento, consciência e mente na visão espírita?

Resposta de Cosme Massi* no seminário Estudando Kardec, da USE Intermunicipal — Catanduva em 07 de outubro de 2023; Bloco 1, Perguntas e respostas.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro.


Na doutrina espírita, Allan Kardec retoma uma tradição que vem dos filósofos espiritualistas, desde Descartes, e defende, deixando claro, que a alma é a causa do pensamento, que é a alma que pensa.

E Kardec afirma, já em O Livro dos Espíritos, mas em O Que É O Espiritismo de forma mais didática, que o homem é um ser formado de três partes: a alma, que é a parte pensante, o perispírito, que é um veículo, um corpo fluídico, e o corpo físico; isso tudo, o homem; claro que o Espírito fora do corpo é apenas a alma e o perispírito. Então Kardec afirma que a alma mais o perispírito constitui o Espírito, e que a parte pensante é exclusivamente a alma.

E o que são pensamentos? Na tradição que vem dos grandes filósofos, pensamentos são todos os estados internos da alma: memória, percepção, desejo, vontade, consciência, etc.

Não é à toa que os Espíritos dizem que “a consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem, como qualquer outro”. Está lá, em O Livro dos Espíritos, e, se quiserem ver mais, é só colocar a frase na Kardecpédia, e vocês encontrarão. Então, são todos pensamentos: memória é um pensamento, desejo, vontade, ideias, raciocínio, tudo isso é o mundo do pensamento. Esse mundo do pensamento é exclusivo da alma, é a alma o ser pensante.

Mas o que é a consciência? A consciência é um tipo de pensamento, ela está na alma. Agora, não me pergunte o que é pensamento, porque, para explicar o que é pensamento, eu tenho que usar o pensamento! Olha o círculo vicioso em que a gente fica! Para explicar o que é um pensamento, é preciso usar outro pensamento, é um círculo vicioso; por isso o pensamento é tomado como um elemento dado. Todos nós sabemos o que é pensamento, é só fazer a introspecção, olhar para si quando está pensando: “Ah! isso é pensamento.” Sentimentos são pensamentos, emoções são pensamentos, enfim, esses estados internos da alma que nós não conseguimos definir muito bem são pensamentos; para definir o pensamento, precisaria usar uma outra coisa que não fosse o próprio pensamento. Mas o que é mais básico do que o pensamento para ser usado para explicar o pensamento? Não tem. O pensamento é um elemento dado.

E o pensamento, para o Espiritismo, é exclusivo da alma; não é o cérebro que pensa, não é corpo que pensa, não é o perispírito que pensa. Perispírito não tem memória, não tem percepção, não tem desejo, não tem emoção, isso tudo é pensamento, e pensamento é exclusivo da alma, e Allan Kardec vai dizer isso várias vezes! Lamennais, numa mensagem extraordinária em que ele fala da alma, afirma: “A alma é o pensamento”. Agora, o que é o pensamento? Pensamento é pensamento, já que a gente não tem algo mais simples para explicar o que ele é.

Então isso responde à questão: consciência é um tipo de pensamento.

Kardec não usa a palavra “mente”; na obra traduzida ela aparece uma ou duas vezes, mas permite entender que não se trata do mesmo conceito que nasce na psicologia, e que está em Freud.

No conceito da Psicologia, a mente é um certo produto do cérebro, e a mente é que pensa. É um conceito materialista, porque, se morre o cérebro, também morre a mente, e nada sobreviveria à morte; nesse entendimento, a mente é uma certa propriedade do cérebro, e ela gera o pensamento. Resumindo: nessa visão da psicologia, o pensamento está na mente e a mente é uma certa propriedade do cérebro, que morre com o cérebro. Essa é uma visão materialista.

Na doutrina espírita, o pensamento está na alma, e no Espiritismo não usaríamos a palavra mente para não gerar confusão com os materialistas, que usam essa expressão porque eles não sabem como é que o cérebro produz pensamento, então eles usaram essa metáfora da mente. Mas podiam ter colocado “alma” no lugar, afirmar que a alma é que pensa; e se o sujeito usar "mente" como sinônimo de "alma" estamos tranquilos, ele quer chamar de mente a alma.

Mas cuidado, em geral as palavras ganham significado no contexto da ciência onde elas aparecem. Então, como a palavra “mente”nas diversas psicologias materialistas, está associada a certas propriedades do cérebro, é melhor não usar essa palavra, porque vai gerar confusão; o melhor é com ficar com Kardec: é alma, ponto.

Mas é curioso que esses pensadores materialistas não tiveram coragem de dizer: “Não sabemos como o pensamento é produzido!”, mas, apesar disso, não quiseram atribui-lo à alma; aí criaram um conceito que eles também não sabem o que é! Se perguntarmos o que é a mente como propriedade do cérebro, também não sabem explicar.

Há muito tempo se define a alma como um ser que pensa. “Ah! mas o que é alma?” Mas meu Deus, se eu não sei o que é pensamento, como é que eu vou dizer o que é alma? A alma é o ser que pensa, só se consegue falar da alma usando a palavra “pensamento”. Como diz Lamennais, “a alma é o pensamento”. O que se vai dizer da alma?

Nós sabemos que a alma é imortal e que nós somos almas, e conhecemos várias de suas propriedades: ela foi criada, ela sofre um processo de evolução moral em que aprende, ela progride. Mas a alma, enquanto ser, nós não sabemos o que é; ela tem uma natureza que desconhecemos, porque é diferente de toda natureza material: a alma não se desagrega, não tem partes.

Várias psicologias materialistas colocam partes na mente: tem consciente, subconsciente, tem isso, tem aquilo! Isso na visão espírita não faz sentido, a alma é una, não tem partes, ela é o mundo dos pensamentos.

Agora, faz sentido colocar partes no cérebro: o cérebro tem partes, é uma estrutura material, pode-se partir o cérebro; mas a alma não tem como ser partida, e não sabemos nem o que é a alma, como é que se vai partir o que nem se sabe o que é?

Kardec não comete esse erro filosófico de partir alma, mas tem autores e Espíritos que adotaram conceitos dessas psicologias materialistas e partiram a alma, colocaram partes na alma! Autores espíritas! Como é que eu vou colocar parte naquilo que eu não sei?

Eu queria que vocês me dissessem quantas partes tem um girigudum; alguém aqui quer me dizer? Obviamente vocês vão perguntar: “O que que é girigudum?” Bom, eu não sei. “Mas me diz quais são as partes.” Ora, mas se eu não sei o que é, como é que eu vou colocar partes? Experimenta colocar partes naquilo que você não sabe, que não conhece! Isso é uma falta de lógica, e Kardec nunca cometeu esse tipo de erro; a alma é alma, é o pensamento, ponto. Consciência é um tipo de pensamento, ponto. Emoção é um tipo de pensamento, memória é um tipo de pensamento, percepção é um tipo de pensamento, ponto.

Então, veja o bom senso. Kardec não vai trazer, e nós também não devemos trazer, a nomenclatura dessas psicologias para dentro do Espiritismo, nomenclatura que é própria delas, que nós respeitamos, mas que nada tem a ver com o Espiritismo. Essa nomenclatura faz sentido no interior daquelas teorias psicológicas, porque elas criaram o conceito, têm lá sua metodologia, mas no Espiritismo, não, nós somos alma que pensa, nós temos emoções, desejos, vontade, sentimentos, ideias, tudo isso está no mundo da alma, está no mundo de pensamentos.

E a partir daí Kardec nos ensina como dominar as emoções, como controlar as paixões, como conquistar virtudes sem precisar de toda a parafernália técnica própria das psicologias, que nós respeitamos, mas cujos conceitos não adotamos porque fazem sentido nessas teorias psicológicas, e não fazem sentido na doutrina espírita.

A doutrina espírita é a única ciência da alma, eu não conheço outra. E a psicologia, que devia ser a ciência da alma, virou ciência de outra coisa, que não é alma, é comportamento, é conduta, é mente, deem o nome que quiserem, mas não é ciência da alma, porque as grandes escolas psicológicas são materialistas.

E o que que é o materialismo? É a doutrina que diz que não há nada além da matéria e das propriedades da matéria, não existe alma para a filosofia materialista, tudo é matéria ou propriedade da matéria. No Espiritismo, não, o pensamento não é matéria, nem é propriedade da matéria; pensamento é da alma, ponto!

Por isso Kardec, ao começar O Livro dos Espíritos, coloca lá em cima da folha de rosto: “Filosofia Espiritualista”, para prevenir aquele que vai ler: Aqui se trata da alma como ser independente e pensante, ponto. Se você é materialista e não está interessado, vai ler outra coisa. Já está na folha de rosto para deixar claro do que o texto trata.

Então as psicologias, as ciências psicológicas, nós respeitamos suas teorias, suas ideias, mas respeitar não significa concordar com elas, é diferente; respeitar as teorias e os teóricos é uma coisa, concordar com eles é outra coisa. Então, de novo, esse conceito de mente como os materialistas entendem, o Espiritismo não aceita.

Agora, se a pessoa toma a palavra mente como sinônimo da alma, nenhum problema usar, embora deva-se evitar para não confundir, porque quando alguém ouve o espírita falar em mente, a pessoa fica assim: “E agora, “mente”, que é que significa? É a mente de Freud, é a mente desses psicólogos?” É melhor usar a palavra alma para não correr risco, por isso, se formos na Kardecpédia e colocamos “mente” na lupa, vamos ver quantas vezes essa palavra aparece: pouquíssimas vezes e é importante ver qual o significado que é dado para ela.

E se procurarmos em francês, o que é melhor ainda para não termos dúvidas quanto ao tradutor ter usado a palavra mente mais vezes que Kardec usou, eu já fiz isso, também encontraremos poucas vezes, na formação etimológica.

Então esse é o cuidado que precisamos ter com as palavras, com os conceitos, e não trazer conceitos das outras ciências para dentro da doutrina espírita, que é simples com seus próprios conceitos, que não precisa dessas ciências para ser ciência.

— Assista à palestra “Materialismo sofisticado” no KARDEC Play!


*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.

Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.


E então, já conhece e estuda com o KARDECPlay?

 O KARDECPlay é o Netflix de Kardec. São centenas de vídeos para estudar Espiritismo, com o pensamento e a obra de Allan Kardec;

 Toda semana vídeos novos na plataforma;

Canal no YouTube com resumos gratuitos de 1 a 2 min de cada videoaula;

 Estude 24h/dia onde e quando quiser;

Todo o valor arrecadado é investido na divulgação da doutrina espírita para o Brasil e o mundo.

Agora você pode estudar as videoaulas via App direto no seu celular. Disponível para download em iOS na App Store e para Android no Google Play. Clique no link para baixar:

Baixe VIDEOAULAS com o aplicativo de estudos KARDECPlay.
Baixe VIDEOAULAS com o aplicativo de estudos KARDECPlay.

Participe de nossa missão de levar Kardec para todo o mundo!


Todos os nossos produtos são criados para estudiosos da Filosofia Espírita e baseiam-se nas obras e pensamento de Allan Kardec. Todos os valores arrecadados são destinados ao IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec).

Este é um projeto:  IDEAK |  KARDECPEDIA  |  KARDECPlay  |  KARDECBooks



Utilizamos cookies para melhorar sua experiência. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.