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Lei dos fluidos: O que são fluidos para o Espiritismo?
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Lei dos fluidos: O que são fluidos para o Espiritismo?

Explicação de Cosme Massi* na live Lei dos Fluidos, no 1.º Encontro Amigos de Allan Kardec, transmitido pela RAETV — Rede Amigo Espírita TV, em 9 de outubro de 2021.

Transcrição de Rui Gomes Carneiro.


A principal referência de Kardec sobre os fluidos é o Capítulo XIV da obra A Gênese. Kardec trata desse assunto em toda a sua obra, começando no Livro dos Espíritos, depois no O Livro dos Médiuns, na Revista espírita, etc. No entanto, é na Gênese que ele faz uma síntese extraordinária, reunindo todas as contribuições que havia recebido dos Espíritos ao longo dos anos. Com essas contribuições organizou o capítulo XIV dessa obra, o mais completo estudo sobre aquilo que o Espiritismo compreende por “fluido”.

Inicialmente é preciso deixar claro o sentido das palavras, isso é fundamental. Kardec observa a importância de se ter clareza do significado das palavras na introdução do Livro dos Espíritos, no item I.

A palavra fluido foi usada ao longo de toda a história da ciência em um sentido muito próprio: todas as vezes que se estava diante de um fenômeno material cuja causa era desconhecida, que era invisível ou que não se entendia muito bem, costumava-se dizer que um fluido era responsável por aquele fenômeno. Na Idade Média, por exemplo, quando houve a epidemia da peste negra, dizia-se que ela era causada por um fluido, o fluido da peste.

No começo da física denominavam-se fluidos todos os materiais que eram capazes de penetrar nos vazios da matéria, capazes de escoar a eletricidade, o calor, o magnetismo, os gases, os líquidos, tudo isso era chamado de “fluido”. Com o desenvolvimento de novos conhecimentos foram ocorrendo modificações conceituais para esses fenômenos, e a física passou a estudar com outros mecanismos a eletricidade, o calor, o magnetismo do imã, ou da gravitação universal, de modo que ela dispensou o uso da palavra fluidos para os casos citados, embora mantivesse o uso dessa palavra para designar os líquidos e os gases em geral. Então, na física em particular, não na ciência em geral, mas na física, o significado da palavra fluido evoluiu, ganhou modificações decorrentes de maiores conhecimentos sobre os diferentes fenômenos. Mas ainda dizemos que o líquido é um fluido, que o gás é um fluido, que o ar é um fluido.

No Espiritismo a palavra “fluido” tem uma acepção própria, embora muito análoga ao seu conceito histórico. Kardec usa essa palavra para designar certas substâncias, certos elementos materiais, certos tipos de matérias sutis que participam dos mais diversos fenômenos espíritas, como a mediunidade, as curas, os passes, e, também, certos materiais que são utilizados na constituição do perispírito e dos objetos da matéria do mundo espiritual.

Assim, no Espiritismo, a palavra fluido tem uma acepção própria, e não se pode, por isso, substituí-la pelo conceito de “energia”, pois são palavras que designam coisas diferentes. A palavra “fluido” está mais próxima daquilo que chamamos de uma substância, de algo que tem uma existência independente. Energia é uma propriedade da matéria, e não algo que se aproxime mais do conceito de substância, de um elemento material.

É preciso ter cuidado com essa possível confusão, porque energia é uma propriedade da matéria expressa matematicamente, e não pode ser confundida com um tipo de matéria, com um elemento material como o oxigênio, o hidrogênio, que são considerados tipos de substância e não propriedades de substância.

Outro ponto importante é que não se deve confundir o uso da palavra “fluido” na física com o uso que dela faz o Espiritismo. Não se pode levar o significado de um termo próprio da física, que tem um significado específico, para dentro do Espiritismo.

É fundamental mantermos o termo como Kardec usou, já que desconhecemos até hoje a natureza desses fluidos de que trata o Espiritismo, não sabemos o que são esses fluidos que os Espíritos manipulam para dar origem aos diversos fenômenos, para a composição de objetos e que são fundamentais na mediunidade, nas curas, na formação do perispírito; nós não conhecemos sua natureza físico-química, mas sabemos que é um tipo de matéria.

Conhecemos dos fluidos apenas algumas propriedades, mas mesmo essas propriedades são associadas, em sua maioria, a conceitos morais. Não conhecemos nenhuma propriedade física propriamente dita desses fluidos.

Então o uso dessa palavra por Kardec continua muito atual, já que historicamente ela era associada a matérias cujas naturezas eram desconhecidas; como ainda desconhecemos a natureza desses fluidos, essa palavra é muito bem usada no Espiritismo. Quando a ciência os estudá-los e compreendê-los, certamente a palavra “fluido” poderá ser substituída por outros termos, como aconteceu com a eletricidade, para a qual passou-se a usar “campo elétrico”, “campo magnético”, “cargas elétricas”, “corrente elétrica”, e vários outros termos, levando a que se abandonasse a palavra “fluido”. Poderemos chegar, então, a conceitos mais precisos que nos ajudarão a entender o que são esses fluidos que os Espíritos manipulam.

Outro elemento importante é que, como não conhecia as propriedades físico-químicas e a composição dos fluidos, Kardec teve todo o cuidado para não separar por meio de nomes os diversos fluidos. Encontram-se na literatura, tanto mediúnica como não mediúnica, expressões como “fluido vital”, “fluido elétrico magnetizado”, “fluido magnético”, etc. Kardec não faz essas separações porque não era possível identificar as diferentes propriedades que cada fluido teria.

O que diferencia os tipos de fluidos não são os nomes diferentes! São as propriedades diferentes que diferenciam as coisas. Por exemplo, o que diferencia a água do gelo? São propriedades: o gelo tem a propriedade da solidez e a água não, e a água tem propriedades que o gelo não tem. Embora do ponto de vista físico-químico eles tenham uma composição análoga, ambos são formados de oxigênio e hidrogênio, eles têm propriedades diferentes. Então as palavras água e gelo são palavras diferentes e elas designam coisas que têm propriedades diferentes. Mas a diferença não é estabelecida pelo fato de terem nomes diferentes, mas porque têm propriedades diferentes; porque são conhecidas as propriedades do gelo e as propriedades da água foram dados nomes diferentes a eles.

As expressões “fluido perispirítico”, “fluido vital”, “fluido magnético animal”, “fluido elétrico animalizado”, são utilizadas por autores que não percebem que são palavras diferentes, mas não se conhecem as diferenças entre as coisas designadas por essas palavras, pois suas propriedades não são conhecidas.

Por isso Kardec usa essas palavras designando o mesmo tipo de fluido: ele diz, por exemplo, no Livro dos Médiuns, que o perispírito é o próprio fluido vital, ou que o fluido perispirítico é o próprio fluido vital. Como não tinha conhecimentos precisos das propriedades dos fluidos a ponto de diferenciá-los, Kardec não se preocupava com dar-lhes nomes.

Mas sabemos pela literatura espírita, nas obras de Kardec, que os fluidos que compõem o perispírito de um encarnado são de natureza um pouco diferente, pelas características de vitalidade que possui, dos fluidos que compõem o perispírito de um desencarnado. No processo mediúnico, os fluidos do encarnado, com certas características de vitalidade, se combinam com os fluidos de um desencarnado, sem essas características, e essa mistura é utilizada nos passes, nas curas etc.

Kardec sabia muito bem que ter nomes diferentes não significa que as coisas sejam diferentes. As coisas são diferentes quando elas têm propriedades diferentes, têm natureza diferentes, e que então se dá para elas nomes diferentes. Mas a diferença não é estabelecida pelos nomes, ela é definida pelas propriedades das coisas. E dar nomes diferentes sem saber se realmente as coisas são diferentes pode criar confusão, então Kardec nunca cometeu esse tipo de erro.

Um outro elemento importante sobre os fluidos diz respeito a certas propriedades que eles têm, que permitem que eles adquiram as qualidades morais dos pensamentos. Na Gênese, Kardec mostra que os fluidos sofrem ação do pensamento, que eles reagem ao mundo íntimo da alma, aos seus pensamentos, e que tomam suas qualidades; emoções ruins dão qualidades ruins aos fluidos, enquanto emoções boas dão qualidades boas aos fluidos. Lembremos que no Espiritismo, como na filosofia, pensamento é todo o mundo interior da alma, ideias, desejos, vontade, sentimentos. Então os fluidos têm essa propriedade de receber qualidades do mundo interior da alma decorrente de seus pensamentos. Os pensamentos podem dar formas, dar propriedades especiais aos fluidos.

Então conhecemos alguma coisa, e isso que conhecemos nos ajuda muito: podemos compreender a importância da prece, dos bons desejos, dos bons pensamentos, para darmos boas qualidades aos fluidos; e sabemos também que essas boas qualidades interferem na saúde, interferem na vida orgânica, interferem no meio em que estamos vivendo.

Desta forma nós conhecemos algumas propriedades dos fluidos, mas não conhecemos suas propriedades físico-químicas a ponto de estabelecermos distinções precisas entre os fluidos de que o Espiritismo trata. Essa é uma realidade muito importante.

Kardec mostra também uma outra verdade essencial, que já fazia parte da própria filosofia espiritualista: mostra que todo tipo de pensamento tem como fonte única a alma: é a alma que pensa; então é a alma que tem desejo, tem vontade, é a alma que sente emoções. Os fluidos são matéria, eles não são fontes de nenhum pensamento.

Entre os pensamentos está aquilo que chamamos de memória, de percepção, que são próprias da alma, porque toda memória envolve conceitos, ideias, emoções, e isso é próprio da alma.

Sabemos que alguns autores espíritas ou espiritualistas dizem que o perispírito tem memória, e isso é um grave equívoco; o perispírito é um tipo de matéria, ele tem uma composição fluídica, é o conjunto de fluidos que envolve a alma, isto é, o perispírito, um tipo de matéria.

Kardec é direto ao dizer que o perispírito não pensa, que nenhum fenômeno mental ou intelectual tem origem nele. É claro que as qualidades dos fluidos que compõem o perispírito reagem ao mundo mental da alma, recebem qualidades desse mundo mental; mas não é o perispírito a causa, a fonte desses pensamentos, da memória, das percepções, dos desejos, dos conceitos, das ideias, tudo isso é exclusivamente causado pela alma, e essa é a distinção fundamental entre os espiritualistas, em particular os espíritas, e os materialistas.

Para o materialista os pensamentos são propriedades da matéria, enquanto para os espiritualistas os pensamentos são propriedades da alma, não da matéria.

E aqueles que pregam certas propriedades mentais como memória e outros pensamentos no perispírito estão fazendo um materialismo sofisticado, estão colocando propriedades mentais indevidamente na matéria do perispírito, como os materialistas, que acreditam que as propriedades mentais são propriedades da matéria.

Na obra de Kardec está muito claro que todo tipo de pensamento é exclusivo da alma, que o perispírito, por ser um tipo de matéria, apenas reage a esses pensamentos, adquire qualidades desses pensamentos, mas não é a sua causa.

Precisamos entender bem esses conceitos sobre fluidos para entendermos a lógica do pensamento kardequiano, que vai mostrando a importância desses fluidos, seja na composição do perispírito, seja na interação dos espíritos com os homens, seja na interação dos Espíritos com a natureza.

Os fluidos do perispírito são o veículo das percepções e sensações, são eles que permitem que os Espíritos recebam em seu mundo interior o que ocorre no mundo fora deles; os fluidos perispirituais recebem os impulsos no mundo exterior e os conduzem à alma, onde são transformados em ideias, em pensamentos, em sensações, em emoções, e isso ocorre exclusivamente no interior da alma.

Então é o Espírito que sente dor, que tem as percepções, e não o corpo físico; as percepções todas sempre ocorrem na alma, nunca no perispírito; quando encarnado, as impressões do mundo exterior fluem pelo corpo físico, depois pelo perispírito e então chegam à alma; nos desencarnados são captados diretamente pelo perispírito no mundo externo, e conduzidas para a alma, que as percebe. Desencarnado, o Espírito percebe o mundo a sua volta, e a partir dessas percepções ele tem seus pensamentos, seus desejos, suas emoções.

Kardec deixa muito claro que o perispírito é um instrumento ou veículo de transmissão, nunca uma fonte ou uma causa de pensamentos, de ideias, de emoções.

Claro que isso é no Espiritismo, a gente sabe que a filosofia materialista acha que todo esse mundo é causado exclusivamente pela matéria.

Estes são conceitos iniciais muito importantes para que não se criem confusões quando se está tratando desse tema tão relevante, que são os fluidos.

É fundamental aprofundar-se na obra de Kardec para o aprimoramento desses conceitos, e para compreender a grande contribuição que ele nos deixou a respeito dos fluidos, principalmente no que diz respeito ao aspecto moral, que é o mais importante e o que mais nos interessa.

Quanto à composição físico-química desses fluidos, Kardec nada nos apresentou, mas isso é papel da ciência, que um dia a estudará detalhadamente; afinal, o objetivo do Espiritismo é estudar os Espíritos e suas relações com o mundo corporal, e o perispírito desempenha papel essencial nessas relações.

Para o Espiritismo, o mais importante é que compreendamos o papel de nossos sentimentos e emoções sobre os fluidos e sobre nosso perispírito, para que entendamos o quanto é importante cultivar bons pensamentos, boas emoções, bons sentimentos, para produzir qualidades fluídicas cada vez mais salutares.

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