Têm alma os animais? — Parte 2 de 2.
*Explicações de Cosme Massi no canal A Vida em Foco — TV, #150, em entrevista a Márcio da Cruz, e na live “A Atualidade da Obra de Kardec”.
Transcrição de Rui Gomes Carneiro.
Pergunta: Vimos que há um princípio espiritual nos animais, e há um ponto de partida para o Espírito humano. Os Espíritos mais nobres, que já estão redimidos nas lutas, também não sabem responder com certeza como é que apareceu o ser humano. Devido a isso, as especulações poderiam gerar mais confusão, como você disse. É isso?
Resposta: Quando um Espírito muito evoluído não sabe explicar o processo, se arriscarmos, estaremos criando sistemas sem nenhuma base, especulação sem nenhuma base, quer dizer, não chegaremos a lugar nenhum.
Pergunta: Os animais também chegarão à perfeição?
Resposta: Tudo leva a crer que os animais, por terem um princípio inteligente, e portanto terem um elemento comum com a alma humana, já que o que caracteriza a alma humana é o princípio inteligente, então, se os animais têm um princípio inteligente, é muito razoável pensar, e Kardec coloca isso em vários momentos na obra “A Gênese”, na “Revista Espírita”, é muito natural pensar que esse princípio inteligente dos animais possa evoluir de tal forma que um dia, depois de um processo evolutivo que nós desconhecemos como se dá, e os próprios Espíritos não conseguiram nos relatar como se dá essa evolução, esse princípio inteligente poderia então, por um processo evolutivo, virar o próprio princípio inteligente que caracteriza a alma humana, e a partir daí prosseguir o seu processo evolutivo. O problema é que a gente não sabe como se dá esse processo, de que maneira esse princípio inteligente, que constituiria a alma dos animais, evoluiria de tal forma que também pudesse seguir o seu processo evolutivo no reino dos homens e a partir daí chegar no estado de Espírito puro ou perfeito.
Assim, essa tese é colocada por Kardec e pelo Espíritos, embora a gente não deva ficar fazendo especulações de como é que se dá essa evolução, de que maneira é esse processo, porque essas especulações em geral geram contradições, geram mais problemas do que soluções, e por isso os Espíritos disseram a Kardec que não poderiam explicar e não poderiam dizer como se daria esse processo evolutivo.
Então você tem a tese de que esse processo evolutivo é razoável, faz sentido pensar, mas a gente não pode dizer como esse processo evolutivo ocorre no plano do princípio inteligente. O máximo que a ciência consegue é estabelecer o processo evolutivo biológico do corpo dos animais, mas não como se daria esse processo evolutivo, certo?
Pergunta: As pessoas dizem que seus animaizinhos têm sentimentos, discernimento. Como é isso?
Resposta: Depende da elasticidade que damos aos termos; mas se a pergunta for se os animais irracionais têm sentimentos como nós temos, é claro que não.
Os nossos sentimentos têm elementos mais sofisticados de inteligência, de conceitos, de ideias, de emoções do que os que eles possuem. Assim, não dá para comparar a alegria humana com a de um cachorro que abana o rabinho, que dá uma demonstração de certo prazer.
Se começamos a usar as mesmas palavras para coisas diferentes vamos gerar confusão, e daqui a pouco vai-se dizer que um cachorro ama sua dona da mesma forma que ela ama outra pessoa.
Não é assim: o animal não tem os elementos estruturais que uma emoção como a nossa exige. Então nós temos uma capacidade de expressão intelectual, de compreensão conceitual que nos dá a possibilidade de uma evolução que não se encontra neles.
O fato de eles terem certas manifestações exteriores, como o abanar do rabinho, a sensação de uma dor, o chorar, não permitem imaginar que as paixões que nós nutrimos sejam idênticas às deles. Aí é um exagero, acaba-se querendo transformar os animais em pessoas, e aí certamente nos equivocamos.
Pergunta: O que não exclui o amor e o respeito que devemos ter aos animais.
Resposta: Mas aí é outra coisa. O ser humano tem que aprender a amar a todos, inclusive os seres inferiores, esforçando-se para evitar que esse ser inferior sofra desnecessariamente; ou seja, quem ama qualquer pessoa sabe da importância de zelar pelo equilíbrio da natureza como um todo. Da mesma forma, não tem sentido destruir uma árvore sem necessidade, não tem sentido sair por aí quebrando galhos de plantas. Qual a razão de sair destruindo a natureza sem nenhuma necessidade?
É claro que há uma destruição necessária, mas é fundamental saber não ultrapassar os limites dessa destruição necessária. Alguém que destrói e provoca dores no mundo à sua volta, será ele mesmo o grande prejudicado, até porque isso alimenta suas más emoções. Para agredir um animal, o indivíduo está sendo dominado pela emoção de raiva, ele é dominado por ela, e daí para agredir uma pessoa não falta nada. Então é necessário aprender a não agredir ninguém, para que a raiva desapareça do mundo interior.
Pergunta: Tomando como ponto de partida nosso o Espírito simples e ignorante, qual é o objetivo de todos nossos esforços evolutivos, onde vamos chegar? Em que nos transformaremos, e o que caracteriza o Espírito no que talvez seja seu último estágio?
Resposta: Primeiro conversamos sobre o início do ser humano, o Espírito com E maiúscula, simples e ignorante, sem poder fazer referência a um passado (sem consciência de si) que não existia, que nunca existiu! Nós, seres humanos, começamos aí, tivemos um início com consciência de nós mesmos como Espírito humano.
O que acontece ao longo do processo evolutivo? Kardec conseguiu ir até onde ele chama de Espírito puro ou perfeito. Ir além disso também seria fazer especulações que não se tem condições de fazer. As características de um Espírito puro ou perfeito, diz Kardec, mostram que ele já tem todo o conhecimento passível de ser adquirido por nós.
Ele já atingiu, no plano do conhecimento, tudo aquilo que nós imaginamos ser possível saber. Então, não dá para imaginar no plano do conhecimento algo depois dele. Ele, Espírito puro, já está no limite.
No plano das emoções, eles estão em um estado de sentimentos elevados, puros, eles sentem o amor incondicional, não têm qualquer emoção ruim. Podemos imaginar algum sentimento além desse? E, do ponto de vista de sua vinculação com a matéria, os Espírito puros têm uma independência absoluta da matéria. Kardec usa a seguinte expressão: “não sofrem nenhuma influência da matéria”.
Para explicar isso melhor, a influência da matéria faz com que se tenha paixões, essas emoções que surgem na alma causadas por essa influência. Por exemplo, um pisão no pé leva o indivíduo a sentir não apenas a dor, mas, costumeiramente, também a raiva. Uma agressão moral nos deixa irritados, qualquer elemento de fora pode alterar nosso estado interior.
Os Espíritos puros não têm qualquer influência da matéria. O mundo material não os afeta.
Pergunta: Não tem tristeza, nem medo, nem raiva. . .?
Resposta: Nada! Nada! Não conseguimos nem imaginar o que seja alguém nesse estado, de chegar em um nível em que as emoções não dependem de nenhuma influência de fora. Nada de fora perturba essa alma.
É uma alma que sente exatamente aquilo que tem vontade de sentir. Seu desejo é único, de sentimento de alegria, de paz e de amor.
Pergunta: E esses Espíritos chegam até aí reencarnando, até chegar nesse ponto a partir do qual não precisam mais reencarnar. E eles continuam evoluindo?
Resposta: Não temos condições para entender isso.
Pergunta: Mas Kardec chegou a abordar isso?
Resposta: Não, porque, imagina, se eles chegaram nesse estado em que não têm mais nenhuma paixão, tendo os sentimentos mais puros que se possa imaginar, com todo o conhecimento possível que se consiga imaginar, como é que se pode ficar especulando o que vem depois?
A gente nem teria palavras para dizer o que vem depois disso. Por isso Kardec para ali. Tentar criar uma hierarquia entre esses Espíritos puros, dizer que existe um Espírito puro mais evoluído do que outro, qual o sentido, se não temos nem uma palavra que expresse a diferença? Nós não teríamos uma característica que os diferenciasse.
Pergunta: E vai demorar para a gente chegar aí?
Resposta: Essa é uma boa pergunta, se imaginarmos que ainda cultivamos tantas emoções ruins! Ainda temos que chegar a Espírito bom, o que já é conquistar as emoções do bem; como tais, precisaremos adquirir todo o conhecimento que o universo pode nos oferecer, já que um Espírito puro sabe tudo aquilo que a matéria lhe pode oferecer em termos de conhecimento, pois ele precisa ter poder completo sobre a matéria. Olha, Márcio, talvez a gente demore alguns bilhões de anos para chegar lá, sendo otimista. Se a gente seguir nesse caminho do Cristo. . .
Pergunta: Se fizer tudo certinho.
Resposta: Isso, se fizer tudo certinho!
— Assista à vídeo aula do KardecPlay “Os animais e os homens, parte 2.
*Observação. O texto acima foi retirado de uma exposição de viva voz. Como todo ensino oral, esta colocação pode não ser tão rigorosa com os sentidos das palavras, por efeito da proximidade entre as pessoas que conversam. É preciso, por isso, considerar que as definições dadas podem ser provisórias, e que alguns termos são usados em sentido figurado. Em todo caso, o fundo da mensagem não deixa equívocos.
Cosme Massi é Físico, Doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Foi professor, pró-reitor e diretor de diversas universidades no Brasil. Ganhador do Prêmio Moinho Santista em Lógica Matemática. Escritor, palestrante e estudioso das obras e do pensamento de Allan Kardec há mais de 30 anos. Idealizador do IDEAK (Instituto de Divulgação Espírita Allan Kardec) e da KARDECPEDIA, plataforma grátis para estudos das obras de Allan Kardec. Reúne mais de duzentas aulas de Espiritismo na plataforma KARDECPlay.
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